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Monti

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Prof. Jiro na foto com seu neto Chico Yamauti

Entrevista realizada por Sueli Yamauti no dia 10 de novembro de 2021


 

1 - Em que período você morou em Adamantina? Sua família é da cidade?

Cheguei em Adamantina em 1955 e morei até 1980, quando nos mudamos para Presidente Prudente. Minha família era de Vera Cruz. Meu pai era jornalista, minha mãe cuidava da pensão na minha casa onde moravam várias pessoas que iam para a cidade tentar a vida e éramos em 11 irmãos. Fomos para Adamantina acompanhando uma irmã minha, que se casou com o Antonio, eram donos da Sakai & Cia e fui trabalhar lá.


 

2 - Você foi professor de português e francês. Como um descendente de japoneses foi ser professor de francês? 

Pela “dureza” (risos), teve uma época em que eu estava precisando muito de dinheiro e um diretor de escola me ofereceu dar aulas de francês. Eu me assustei, mas fui atrás, estudei e então comecei a dar aulas. Fiz um curso na Aliança Francesa, com professores da Universidade Sorbonne, de Paris, muito bom. Uma coisa pitoresca que me lembro sempre foi de que os professores quando foram embora do Brasil queriam todos levar garrafas de pinga, e da 51, que era muito forte, mas não sei porque eles gostavam (risos).


 

3 - Fale um pouco sobre sua relação com os alunos, como era no tempo em que você dava aulas?

Naquele tempo era diferente. Os professores eram mais amigos dos alunos e vice-versa, me parece que hoje a situação está bem tensa. Uma pena.


 

4 - Conte algum episódio que marcou você no magistério. 

Uma coisa que nunca me esqueço é de quando lecionei numa escola na periferia da cidade em Adamantina. Ali alguns alunos iam armados com facas, canivetes e muitos professores tinham muito medo de ir dar aulas, sofriam ameaças. Comecei o ano e percebi que muitos não aproveitavam as aulas por fome, então durante 1 mês não dei aulas, consegui doações de mudas e terra e fizemos eu e os alunos uma grande horta, que depois fornecia os legumes para sopa e almoço. Essa ação me aproximou muito dos alunos e eles passaram a me fornecer proteção. Ao invés de ameaças eu era protegido por eles. Isso me ensinou muito. Quase fui demitido por não dar as aulas (risos), mas isso não é importante. Fiz o que achei que devia fazer e eles passaram a não faltar e render mais nas aulas. 

Coisa semelhante aconteceu na FEBEM, quando eu era responsável por uma casa onde os adolescentes moravam, sob minha supervisão. Consegui doações de tinta e rolos de pintura, pincéis, verniz, e coloquei os meninos todos para pintar e consertar os problemas que a casa apresentava. E eles passaram a cuidar do lugar de um jeito diferente, sem depredações, que eram comuns em outras casas. E a cada semana eu levava um dos meninos pra comer uns petiscos num boteco (risos). E aquilo era um acontecimento pra eles, me aproximou muito da turma. Acredito que quando você passa a enxergar essa turma com respeito e entender as necessidades, aí é que consegue um resultado bom na educação. Falta esse olhar hoje. 


 

5 - Qual a memória mais legal que tem de Adamantina e da época em que dava aulas?

Me lembro muito das quermesses que fazíamos no Helen Keller, eu ajudava na organização, junto com os professores e todos participavam, era muito divertido. E as gincanas, que arrecadavam alimentos e outros produtos que depois eram doados. As ações coletivas eram frequentes e essas lembranças são muito boas.


 

6 - Ouvi dizer que havia um professor que ia com as unhas esmaltadas dar aula. Conhece esse professor?

Sim, e quem passava esmalte nas minhas unhas era essa entrevistadora aqui (risos). Os alunos riam muito, porque eu saía correndo para dar aulas e nem me lembrava que a minha filha tinha passado esmalte, porque brincávamos que eu era filho dela e ela me arrumava, penteava e adorava esmaltar minhas unhas (risos). A turma da escola se divertia, também, porque quando me perguntavam qual o nome da minha esposa e filha, eu dizia que era Emengarda e Açucena, nomes inventados, mas quando descobriam que era brincadeira riam muito. Eh tempinho bom… (risos)


 

7 - Que outras atividades você realizou?

Meu primeiro trabalho foi com 11 anos, numa farmácia, em Vera Cruz. Naquela época não era proibido crianças menores de 16 anos trabalharem. Em casa éramos 11 irmãos e todos tinham que começar cedo a trabalhar. Mas também não tinha carteira assinada, nada. Eu gostava. Depois, com mais idade aprendi a aplicar injeções e até gostava da área de saúde, acho que daria um bom médico. 

Depois fui trabalhar na empresa Sakai & Cia, na máquina, que era do meu cunhado. Numa ocasião  me desentendi com a família, e saí da máquina. 

Fiquei sem emprego, já casado, e foi aí que o professor Epaphras Gonçalves Ennes me propôs dar aulas (e de francês!). Então fui ser professor, fiz o curso de francês, depois faculdade em Tupã, de Letras, e depois uma pós-graduação e faculdade de pedagogia e dava aulas de português e francês. 

Em paralelo trabalhei como redator e dirigi por um tempo o jornal O Adamantinense. Na época o jornal era pequeno e  só dava notícias de acontecimentos da cidade, eu fico feliz em poder dizer que mudei  isso, passei a publicar matérias mais abrangentes, com artigos sobre análise política e assuntos nacionais.

 

Depois nos mudamos para Presidente Prudente e assumi a chefia do almoxarifado na antiga APEC, hoje UNOESTE e trabalhei também na direção da secretaria do segundo grau da escola. À noite fazia um terceiro turno trabalhando como revisor e redator no jornal que era do Agripino Oliveira Lima (dono da Unoeste). 

 

Com o Agripino, depois, fui trabalhar como Assessor Parlamentar em Brasília. Fiquei lá por 2 anos, redigi e conseguimos aprovar 61 emendas parlamentares, o que é um feito, para quem nunca havia trabalhado com isso. Fizemos um bom trabalho. Mas me desiludi pelas mazelas que via acontecer lá no Planalto, Brasília tem muita corrupção pra tudo quanto é lado, então pedi demissão, voltei à Presidente Prudente.

 

Já em São Paulo, depois que saí do magistério trabalhei como Supervisor na antiga FEBEM, uma experiência muito rica. Tem episódios emocionantes, como o que contei. Aquela instituição tem que mudar muito. 


 

8 - O que você mais gostava na cidade? E o que mais lhe desagradava?

O que eu gostava em Adamantina era da tranquilidade da cidade, da calma, não precisava me preocupar com assaltos, insegurança. E gostava também dos amigos. Fiz muitos amigos lá, gente boa, tenho saudades. O Eugenio Borro, a Ani Schaufelberger, o Fernandão e muitos outros mais. 

 

E o que mais me desagradava era a mentalidade pequena de algumas pessoas. 


 

09 - Você frequentava o Cine Sto Antônio? Que filme foi mais marcante?

Ah, foram vários. Posso citar “Candelabro Italiano” e “Em cada coração uma saudade”. Esses filmes me marcaram e me lembro deles até hoje. E da bala pepper, que a gente comprava no intervalo dos filmes. Tinha intervalo no cinema naquela época. O pessoal aproveitava pra paquerar (risos).


 

10 - Cite quem são as pessoas em Adamantina para quem você prestaria homenagens.

Alguns professores, que admiro: O Fernandão, Fernando Chagas Fraga, que era mais que um irmão, me ajudou muito, o Professor Raul do Valle, de música, professor Antonio Jorge, de matemática, ótima pessoa, professor Antônio Paulo Chiste, de português e professor José Euclides Ferreira Gomes, de geografia, pai do Ciro Gomes. Mas que fique claro que a homenagem seria ao PAI dele (risos).


 

11 - Qual seu maior orgulho e do que você se arrepende?

Acho que não tenho orgulho de nada (risos) e do que me arrependo? De não ter saído antes de Adamantina, fiquei profissionalmente estacionado por muito tempo, devia ter saído de lá antes, porque em Presidente Prudente tive muito mais oportunidade de desenvolver meu trabalho.


 

12 - Quais são hoje as coisas que mais lhe alegram?

Estar com minhas filhas, meus netos e os dois cachorros.


 

13 - O que você acredita que falta no mundo e o que o mundo tem hoje de legal que não tinha antes?

Falta amor. Falta muito amor e humanidade. O mundo precisa de mais amor. E o que temos hoje de bom que não havia antes é o progresso na medicina. 


 

14 - Deixe uma mensagem para o pessoal de Adamantina e do grupo Somos Nós de Adamantina.

Adamantina tem muita gente com potencial. Espero que essas pessoas possam ter a oportunidade de mostrar tudo de que são capazes e que a cidade tenha administradores que trabalhem para que isso seja possível. Que Adamantina mostre ao mundo todo potencial que a cidade e seus habitantes possuem. 

 

E quero deixar um abraço para todos os meus ex-alunos, que são centenas ou milhares. Tenho saudades. E tenho orgulho da minha filha por ter criado esse grupo, acho que ela não esperava que ficasse tão grande (risos). Abração pra vocês. 

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