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A Pescaria Perfeita

Adamantina é terra de pescadores.

Ainda hoje contamos com conterrâneos sábios nesse ramo. Mas nos anos 60...

E o nosso Rio Feio – certamente o mais piscoso de todo o mundo.

Se já houvesse o Guinnes nosso rio seria conhecido em todo o planeta.

Eu, privilegiado na condição de “office boy” da Casa Leão, a maior e mais conhecida da região em  artigos de caça  e pesca, podia me deliciar com as histórias desses homens que conservavam em seus espíritos pioneiros a chama primitivista da vida ancestral.

Os domingos, para esse contingente de paixões ribeirinhas, era dia de lotar caminhões em direção aos Rios Feio e do Peixe.

Na época da subida da jurupoca então... os caminhões se multiplicavam. E todos voltavam com peixes.

E havia as pescarias mais programadas, quando se “pousava” na beira dos rios. Muitas delas no Rio Paraná ou na foz do Feio.

Dos melhores entre os melhores, os cunhados Caetano e Reneu programaram a pescaria perfeita.

Sabiam tudo de pesca e natureza. Combinaram e prepararam tudo com antecedência, “ na surdina” para evitar o risco de oferecidos indesejados. Saíram no dia e hora programada, logo após o almoço, num poderoso, valente e preguiçoso jeep Willys 6 cilindros.

“Sempre vinte, sempre trinta” levava a alegria dos dois pirangueiros em direção à foz do Rio Feio com o Paranasão.

No caminho, uma parada na venda de beira de estrada para um café, salgado (se soubessem...), uma disfarçada conversa colhedora das condições do rio, dos peixes em trânsito...

Chegariam em tempo de armar o acampamento, preparar a “traia”, e aproveitar o melhor horário, no cair da tarde até o escurecer, “a hora do peixe” segundo os sábios.

Seguindo o programado, a primeira providência foi abrir 6 buracos; 3 dias, um buraco para cada um por dia.

Programação perfeita.

Não perderiam tempo de pescaria em abrir buraco na hora da necessidade.

Depois, era só empurrar a terra com o pé cobrindo o feito e tapando o buraco.

A barraca, já em primeiro plano no jeep, começa a ser montada. Um dos cunhados espalma a mão na barriga e sai em direção ao seu primeiro buraco.

Voltando cruza com o cunhado, apressado por chegar em tempo ao seu primeiro buraco.

Ainda bem que não precisou desmontar nada.

Meia hora, 6 buracos cheios.

E o preguiçoso 6 cilindros a fazer poeira de volta.

 

Crônica de José Michelini Neto

Crônicas Adamantinenses

Inferninho

Calma !

Não se abstenham da leitura da crônica pelo sugestionamento do título.

Não vamos falar do reinado de Lúcifer nem de antros ao gosto de seus súditos.

Esse Inferninho do qual se trata permanece sem obliterar-se na memória de muitos adamantinenses como o imbatível time de futebol de salão (permitam-me o uso da denominação da época para a modalidade) dos antigos anos 60 e início de 70.

O nome Inferninho...?

Bem, tínhamos o Diabinho no time..., mas pode ter sido profético!

Camiseta tingida, tênis furado ou emprestado, mas, como bem registra o poeta Néio em seu verso: “quando o juiz apitava a ópera começava”. Em uníssono.

No início tínhamos no gol o saudoso MALACA, amigo de brincadeiras inteligentes e às vezes marrentas, dessas de tirar a serenidade de um Jó.

Como goleiro era ágil, astuto, e tinha na distribuição de bola sua maior virtude;

Numa ala tinha o TECA, firme, único jogador a aplicar carrinho no salão;

Na outra ala o BETINHO, gozador fino.

Quando levava uma entrada mais dura ele ria, ajeitava a meia e dizia por adversário: “cuidado pô, vai sujar minha meia”;

No pião era eu, ZÉ MIKE, o carregador de piano;

E o craque DIABINHO, driblador, goleador, nosso Pelé;

Na ala passou também nosso querido e saudoso LAURO GUERRA, ambidestro, driblador, chute firme e certeiro;

Mais adiante permanecemos eu e o Diabinho e chegaram da nova geração para formar o grande timaço:

SINHO, o “piada pronta”, espirituoso nas gozações (basta lembrar que era sobrinho e de mesma índole do saudoso Luizão). Substituiu o Malaca no gol;

LEBA, de jogo elegante, divino;

NÉIO, o mágico da bola;

MIKINHO, precisão, inteligência, técnica;

TOM, jogador completo em todos os quesitos;

CARLÃO MIGUEL, também com técnica preciosa.

Continuaram depois sem mim, com a minha mudança de domicílio a partir de 1970.

Ninguém há de se lembrar de um torneio ou campeonato do qual tenhamos participado sem nos sagrarmos campões. Simplesmente porque não aconteceu.

Ganhamos por vezes seguidas os campeonatos promovidos anualmente pelo SESC e muitos outros.

Também fizemos muitos amistosos com boas equipes da região. Representamos destacadamente o futebol de salão de Adamantina.

Memorável foi um torneio realizado na quadra do Instituto, promovido pela Instituição anfitriã.

Batemos o fortíssimo time do Pulman de Ademar, Nelo, Valdo na rodada inicial. Depois o Penarol, de Bassan, Dinho, Mingo (na memória de todos nós) e Cia.

É desse jogo o providencial grito do Leba em alerta ao Néio: “olha o corte”, e o Néio, esticando a perna direita, com a “ponta da bota” tira o doce da boca do Bassan.

Em 1969 fomos todos convocados pelo saudoso Flávio “Japão” para a seleção da cidade e ajudamos a representar nosso rincão em um torneio regional de seleções que incluiu as cidades desde Marília a Dracena.

Exultante a recordação dessa equipe e embora sem registro material, certamente o registro da memória sobreviverá além-túmulo.

E o nome, bem o nome...uma bem caracterizada profecia: um verdadeiro Inferno mesmo... para os adversários...

 

                   Crônica de José Michelini Neto

                   Crônicas adamantinenses

Batatinha

 


“Batatinha quando nasce espalha a rama pelo chão...”

Esse nosso Batatinha nasceu e viveu pra espalhar alegria.

Penso que nasceu feliz e ao invés de chorar no tradicional tapinha, ele gargalhou.

Nascido no seio de família grande unida e feliz, a Família Simoncelli, e ainda agraciado com três lindas irmãs: Janice, Janiva e Ivonete.

Como toda a família, viveu sem preconceitos, sem questionamentos existencialistas, e com paixão futebolística. Palmeirense, como toda a “Famíglia”.

Era o “tampinha” entre os primos, primas e irmãs.

Vivia sem deixar espaço para problemas e tristezas.

Menino tagarela, impertinente, irreverente, todos mexiam com ele.

Suas babás foram, com alegria, suas próprias irmãs, especialmente a Janiva, que contava nove aninhos quando de sua festejada vinda.
Tinha de ser bom atleta, era de família, estava no DNA.

Consideremos seu tio Dinho, craque eterno de nosso glorioso Guarani F.C.

Quem não se lembra de sua irmã Janice jogando vôlei pelo MACLEL.  

E a irmã Ivonete que jogou vôlei pelo Corinthians e chegou a representar o Brasil em modalidades de atletismo.
Entusiasmado e azucrinante, no time da Estação era o pequeno da turma, por isso ficava na reserva.

E o tempo todo incomodando o treinador: “deixa eu entrar, vou fazer um gol”.

Até que entrava e fazia mesmo o gol.

Então incomodava o treinador: “Viu, falei que ia fazer um gol” – “viu, tenho de jogar mais” e por aí adiante.

 

De maneira que o treinador não sabia o que era pior: deixa-lo na reserva ou pô-lo para jogar.
Lembro-me de um jogo noturno do Inferninho contra o Penarol no Instituto.

Eu, em início de namoro com a mais bela de suas primas, após o jogo, na volta para casa, caminhava de mãos dadas por calçadas mágicas, levados por fadas de varinhas estreladas, e a realidade do Batatinha a dois passos atrás, com seus sete aninhos, animado, orgulhoso e um verdadeiro “grilo falante”: “Hei Mike, mas aquele gol que você fez hein”... Hei Mike, mas aquela bola que você deixou para o Leba hein”... “Hei Mike mas se o goleiro não dá sorte naquela hein”... “Hei Mike”... “Hei Mike...”.
Assim era o Pequeno Batatinha.


Menino de bom trato com todos, carinhoso, popular, piadeiro, bom dançarino gostava das músicas mais populares, como sertanejas, samba, pagode... Companheiro dileto da felicidade.

Há depoimentos gravados de ex-colegas e amigos dando conta de sua alegria, companheirismo, determinação, luta, tenacidade. 
Representou e abrilhantou o nome de Adamantina por onde passou. 
Levado ao Guarani de Campinas em 1980 brilhou no juvenil daquele clube.

Em 1983, levado ao Londrina então seu futebol apareceu.

 

Emprestado, teve passagens pelo Rio Preto, depois ao Café FC do Paraná, voltou ao Londrina e então pudemos vê-lo em ação pelo campeonato brasileiro Série A.

Em ascensão na carreira, com apenas 23 anos, fazia a última prova da Faculdade de Educação Física na UEL (Universidade Estadual de Londrina) quando se sentiu mal e foi diagnosticado com leucemia.

 

Não chegou a pegar o glorioso e merecido diploma.

Lutou bravamente contra o mal, com apoio de todos os familiares, por quase dois anos.

Lembro-me, e o Néio, Mikinho, Tom e outros devem se lembrar daquele racha que ele participou conosco no Banespinha de Adamantina.

 

Parecia estar curado.

Acho que foi sua última participação no futebol.

Meses depois era levado ao Alto. Trinta e três anos de saudades, de dor indelével.
Penso que Deus, enciumado por vê-lo entre nós, o levou cedo para fazer parte de Seu time de Anjos.

Ou talvez o tenha poupado de alguma futura agrura a que nós, mortais, estamos sujeitos nesse mundo misterioso e de afloramentos insanos. 


É, o Batatinha foi cedo... para nós que ficamos.

 

Mas Batata, nosso Deus é de misericórdia e sei deve estar bem feliz, nos esperando e intercedendo por nós.

Encontrar-nos-emos quando também formos chamados.

 


⭐        Nascimento:        06/05/1963 – Adamantina (SP)
✝️         Falecimento:       11 / 03/1988 – Adamantina (SP)

            José Michelini Neto

            Crônica Adamantinense

Monti

 Adamantina surgiu de um planejamento de conquistar fronteiras do extremo oeste paulista.

 Como lugar novo, em formação, atraiu toda fauna de figuras da espécie humana.    

Gente cheia de sonhos, aventureiros, pitorescos, folclóricos, exóticos. Alguns ficaram, outros partiram em seguida para novas fronteiras. Por isso aqueles anos 50/60 foram tão marcantes para a cidade.

Dentre essas pessoas quero fazer nesta oportunidade o registro de um cidadão, senão folclórico, pelo menos muito popular e querido. Falo do Dimer.

Quem não o conheceu naquela Adamantina daqueles tempos?

Pioneiro adamantinense de primeira hora, figura extrovertida e até folclórica que marcou aqueles idos anos 50/60/70/80 da cidade. Lembro-me de seus passos ligeiros, óculos na cara, chinelos ou sandálias nos pés.

Pelas ruas cumprimentava e inventava uma brincadeira para cada cidadão ou cidadã com que cruzasse.

Por profissão a nostálgica e extinta lide de alfaiate. Vestiu com elegância os cidadãos da cidade com seus perfeitos e elegantes cortes.

Dimer MONTI seu nome de batismo.

Não houve bebê nascido nos anos 50 que o não tem como testemunha de nascimento.

Sua alfaiataria era vizinha do Cartório de Registro Civil.

Também não houve mocinhas debutantes que não aprenderam seus primeiros passos com o “mestre” Dimer, exímio e elegante nas pistas de dança.

Já na sua meia idade, por sua popularidade, saiu-se candidato a vereador.

Foi bem divertida essa campanha. Nos seus “santinhos” de propaganda o mote não podia ser mais idiossincrático:

 “Merda por merda vote num MONTI”.

 

      Autor:  Crônica de José Michelini Neto

      Crônicas Adamantinenses

Cadeira de Rodas

Nossa história é sobre um garoto, segundo filho homem de um casal de vida normal dentro da sociedade.

Os seus primeiros passos já não foram como os de outros garotos.   

Mas andou.  

A medida que crescia, os sinais de andar diferente se pronunciava.

E tornou-se um andar afeminado, tipicamente de homossexual.    

Como dizia seu pai, “de bicha”. E ouvia os impropérios do pai: “ande como homem! Parece uma bichinha” e outras extemporaneidades do gênero.

Só na adolescência, tardiamente, quando as dificuldades no caminhar se pronunciou acompanhado de dores é que os pais procuraram ajuda médica.

“Homo sapiens” (homem sábio) é a designação que os cientistas atribuíram a nós, nossa espécie, surgida há milhares de anos.

Espécie que subiu da África para a Europa e sobrepujou o “homo erectus”.

Mas sábio no que? Verdade, constituímos e organizamos sociedades, criamos nossas tabuas de lei, nossos valores, inventamos ferramentas, máquinas, fomos ao espaço, desenvolvemos capacidades intelectuais, arte...

Mas, justiça não é coisa desse mundo. Também desenvolvemos o machismo, preconceitos, inveja, ódio, impingir sofrimentos aos próximos e a outras espécies, cometer atrocidades, impor opressões, tiranias e mil outras atitudes que podem ser classificadas, espiritualmente, como insanas. Ciência, arte, tecnologia desenvolvidas junto com preconceitos, arrogância, tiranias...

Ah... o garoto de nossa história. Sim, o pobre garoto de nossa história: aos dezesseis anos foi condenado a viver o resto de seus dias em uma Cadeira de Rodas.

 

          Conto de José Michelini Neto

          Contos adamantinenses

Menino Caçador

Meu primeiro passarinho

Os anos ainda eram os de 50 e o endereço confins da Rua Anchieta, quase Vila Endo.

Sim, o “inconsciente coletivo” desde a mais remota ancestralidade, metaforizado por “instinto de caçador”. Dote natural do indivíduo da espécie nascido macho.   

Fiz meu primeiro estilingue. Forquilha da árvore “leiteira”, abundante na pastagem adjacente ao “Buracão”; borracha de câmara de ar de bicicleta; malha de tira de couro; elastiquinhos tirados da mesma borracha.

Ficou bom.

Bornal doado pela mãe que não é bom cercear os “instintos naturais” da criança.

 Munição de pedregulhos roliços campeados pelas ruas e terrenos baldios.

Tudo pronto, saí para minha primeira caçada.

Não foi difícil achar rolinhas pousadas nos fios elétricos da rua.

Como manda a técnica, aprendida nos filmes das matinês, aproximei-me sorrateira e silenciosamente o mais possível da vertical dos pássaros.

Estiquei a borracha, apontei e zap! Grande caçador!

Uma rolinha despencou do fio.

Corri com alegria pulsante e a autoestima no céu. Até chegar ao meu troféu.

Então peguei aquele corpinho leve, suave, trêmulo, indefeso, dorido, ferido.

Seu olhar parecia implorante e resignado.

Meu sentimento inverteu-se.

Meu peito, minha mente ansiando por um milagre repentino.

Veio a noite e era preciso dormir.

As orações foram fervorosas e dirigidas à pobre avezinha.

E acordei com o coração ansioso empurrando-me para a peneira.

Seu olhar, já vivo, inquieto, parecia buscar a liberdade própria de sua natureza.

Peguei-a novamente, levei-a para a rua, e, com suavidade, elevando a mão, soltei-a.

E ela voou...

 

 

                          Crônica de José Michelini Neto

                          Crônicas Adamantinenses

Baile de roças

Essas coisas quem me contou foi minha tia Mercedes, de noventa e dois anos, cérebro e discernimento saudáveis e memória 5G. Eram chamados mesmo de bailes. Utilizei o verbo no modo pretérito porque imagino que já não existam, com esses cenários e paixões, há já várias décadas. A maior alegria dos moradores da roça, especialmente para as mocinhas e moças que não eram dadas a pescarias nos córregos, caçadas nos campos e matas, jogadoras de futebol, tragos e conversas nas vendas. Sempre nas noites de sábado e eventualmente numa véspera de feriado. Limpava-se o terreirão de secar café, fincavam-se os mastros, trançavam-se longos bambus para suportar a cobertura de lona. Como eram aguardados os sábados. Paixões contidas durante a semana de extenuante trabalho. Pulsações que se elevavam na proximidade da grande noite. Grupos alegres de rapazes e moças se formavam e caminhavam nas noites, às vezes em longas jornadas. Quando, durante a semana, chegava um homem de fora do patrimônio a cavalo anunciando o local do baile do próximo sábado, era como o cavaleiro galante, o pregador de boas novas, o arauto de um feliz edito do rei. Era assim que acontecia.

Quantos namoros e casamentos surgiram desses bailes sob a égide de nosso Deus. Disse ela que na casa de meu avô, na terça de carnaval a meia noite era rigorosamente respeitada. Sob protestos, mas à meia-noite o fole da sanfona sossegava. Bastava uma sanfona e sanfoneiro para a animação, mas muitas vezes se fazia acompanhar por um violão ou viola. E as moças e mocinhas, em seus elegantes e recatados vestidos ou saias rodadas ou plissadas em tecidos de algodão alegremente estampados e coloridos, sentiam-se felizes e belas princesas em noite de gala. Todos dançavam com todas livremente, mas evidentemente haviam os casais que se procuravam.

Por isso a lua cheia é tão romântica e cantada em versos e prosas. Imagine a felicidade e emoção de um casal, que no retorno se fazia atrasado em relação aos demais, de mãos dadas, sob o testemunho da Lua brilhante e radiante a emanar inspirações para as palavras, os sentimentos, as juras, as pulsações dos corações, os sonhos futuros, e nosso astro guardando tudo em segredo em seus anais românticos.

Ouvia a minha tia extasiado com sua narrativa. Então me foi vindo à lembrança que estive presente num desses festivos eventos. Eu era um rapaz bem moço ainda. O fole já fazia vibrar os primeiros acordes da alegre música, as cordas do violão faziam a harmonia, os casais já se faziam rodar na pista. Foi então que vi o moço, baixote, troncos fortes, olhos e gestos denunciando empolgação contida. Logo percebi que meio sem jeito levava um pandeiro às costas, sustentado por uma das mãos. Foi se aproximando da orquestra olhando pra todos os lados como como que pedindo licença. Chegou-se perto do sanfoneiro, devagar pôs o pandeiro à mostra, esperou, certificou-se de que ninguém emitia mesmo um olhar de repreensão, sentiu-se aceito, esticou o pescoço na direção da sanfona, aguçou os ouvidos por uns momentos e quando se achou no ritmo da música atacou: chic tuc chic tuc, chic tuc... O sanfoneiro mudou a música; nova esticada de pescoço, novo aguçar de ouvidos e novo ataque: chic tuc, chic tuc, chic tuc... E a cada música o ritual se repetia: pescoçada, ouvidoria e novo ataque. Mas o chic tuc era sempre o mesmo. Ele se sentia visivelmente extasiado como músico, mas noite adentro o chic tuc não variou.

 

                                                                      Crônica de José Michelini Neto

                                                   Crônicas Adamantinenses

Penas
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